Heróis sem capa
joel pereira maltez
O herói deste mês é arquiteto de formação e treinador por paixão. Joel Maltez leva mais de duas décadas dedicadas ao atletismo. Com uma visão profundamente humana e artística do treino, ele vê cada atleta como uma obra em construção, onde o verdadeiro desafio é transformar o potencial bruto em talento lapidado. Para Joel, ser treinador é mais do que desenhar planos ou alcançar pódios: é uma missão para a vida, um equilíbrio delicado entre exigência, liberdade e entrega. Nesta entrevista, o treinador revela-nos as motivações, dificuldades e aprendizagens de um percurso movido por paixão, e um sentido de propósito que vai muito além da pista.

AAVC: Qual é a maior motivação que o leva a ser treinador? O que é que o move?
JM: Fui atleta desde novo e também comecei cedo como treinador (há 21 anos atrás), é a paixão que me move, o sentido de missão. Mas, acima de tudo, o que realmente me motiva é pegar numa pedra grande, tosca e pesada — e, com tempo, dedicação e visão, transformá-la numa obra de arte. O desporto e a arte andam de mãos dadas (não fosse eu arquiteto). São, talvez, as últimas gotas de verdadeira liberdade que ainda temos. E poder fazer parte dessa transformação, ajudando alguém a descobrir o seu potencial mais puro, é um privilégio que nunca tomo como garantido.
AAVC: Que lições tenta ensinar aos seus atletas?
JM: Procuro incutir nos meus atletas a noção de que o foco nunca deve estar no problema, mas sim nas soluções. Trabalhamos sempre a partir do “aqui e agora”, centrando-nos no que está ao nosso alcance e no que podemos fazer para alterar a realidade — seja ela qual for. Ensinar a distinguir o que controlamos do que simplesmente acontece é, para mim, essencial. Ajuda-os a crescer, a ganhar maturidade e a manterem-se resilientes em contexto competitivo e na vida.
AAVC: Qual é a parte mais difícil de ser treinador?
JM: O mais difícil é conciliar esta paixão com a vida familiar. Por mais que tenha o apoio e compreensão daqueles que me são próximos, é sempre um enorme desafio equilibrar o tempo, a energia e a presença emocional. O treino não termina quando a sessão acaba — envolve preparação, acompanhamento, preocupação constante. E tudo isso, inevitavelmente, ocupa espaço que, muitas vezes, poderia (ou deveria) ser da família.
AAVC: Qual é o seu maior medo?
JM: Por mais que um treinador o negue, lá no fundo existe sempre o medo da falha ou de não estar à altura do momento. É algo que nos acompanha, especialmente nos instantes decisivos. Mas o medo não é o problema — o verdadeiro problema é ignorá-lo, escondê-lo ou fingir que ele não existe. Enfrentá-lo com honestidade e preparar-nos o melhor possível é parte do nosso crescimento como treinadores e como pessoas.
AAVC: Qual foi o seu momento favorito como treinador?
JM: Felizmente, tenho vivido muitos momentos especiais. Desde acompanhar uma criança que superou um grave problema de meningite e a ver tornar-se internacional, até testemunhar antigos atletas tornarem-se referências nas suas áreas profissionais. Cada medalha, recorde ou superação particularmente desejada é uma vitória com significado. No entanto, mais do que qualquer feito individual, o que mais me marca é a sensação de dever cumprido — saber que estive presente no momento certo, da forma certa, para ajudar alguém a crescer.
AAVC: Vamos ouvir a voz da sabedoria: Qual é a sua frase do dia?
JM: “O dia em que atinges o teu objetivo, é o primeiro dia em que não o fizeste.”
Costumo repetir esta frase aos meus atletas para os lembrar de que o sucesso não é um ponto final, mas um processo contínuo. Atingir um objetivo é apenas o início de uma nova etapa, com novos desafios e responsabilidades. É nesse momento que começa o verdadeiro trabalho para manter, superar ou redefinir o que parecia ser o topo.


Com uma visão centrada na transformação interior e no crescimento consciente, Joel Maltez é um treinador que marca pela presença, pela exigência equilibrada e pelo compromisso com o desenvolvimento integral dos seus atletas — dentro e fora da pista. Do trabalho no CA Mazarefes aos desafios internacionais, o seu percurso espelha uma dedicação que ultrapassa fronteiras.
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